O homem prudente 'versus' o homem insensato
INTRODUÇÃO
Mateus, escritor do Evangelho que leva seu nome, narra o Sermão do Monte, primeiro discurso de Jesus, em três capítulos (5-7), que começa com as bem-aventuranças (Mt 5.3-12), quando Ele (Jesus) tinha acabado de subir ao monte (5.1,2), e encerra, ao destacar a fala do Mestre sobre os dois tipos de ouvinte, o praticante e o não praticante (7.24-29), quando em seguida Ele desce do monte (8.1). Como falaremos desses dois tipos de ouvintes, abra comigo a sua Bíblia em Mateus 7.24-29 e vamos refletir um pouco sobre esse texto bíblico.
1 O OUVINTE PRATICANTE E O NÃO PRATICANTE
Antes de tudo, devemos saber que a palavra ouvir é polissêmica, ou seja, tem vários sentidos, tais como escutar, prestar atenção, entender etc. No contexto de Mateus 7.24-29, ouvinte praticante é aquele que presta atenção em tudo o que seu mestre/senhor fala e em seguida põe em prática tudo o que ouve/aprende. O ouvinte não praticante, por sua vez, também presta atenção em tudo o que seu mestre/senhor fala; a única diferença é que ele não pratica aquilo que ouve/aprende.
2 O HOMEM PRUDENTE
Vejamos a primeira comparação feita pelo Mestre: "Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto sobre aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha" (Mt 7.24,25). Entendamos, agora, esses dois versículos bíblicos.
2.1 "Todo aquele, pois, que ouve estas minhas minhas palavras e as pratica" (v.24a)
Todo aquele equivale a "qualquer pessoa". O verbo ouvir, como já vimos, tem o sentido de "prestar atenção". Ouvir o quê? Ouvir as minhas palavras, ou seja, ouvir as palavras de Jesus. Depois de ter ouvido as palavras do Mestre, cabe à pessoa praticá-las, ou seja, fazer exatamente como Ele falou.
O verbo praticar, nesse contexto, significa "fazer o que ouve/aprende", "pôr em prática o ensinamento aprendido", e isso de forma habitual, já que fazer/praticar traz a ideia de continuidade. Em outras palavras, praticar a Palavra de Deus deve ser algo contínuo. No sentido de cumpridores da Palavra, Tiago, irmão de Jesus, escreve: "Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos" (Tg 1.22 - itálicos meus). (Sugiro que leia e medite nos versículos seguintes, 23-25, de Tiago 1, para melhor compreensão.)
2.2 "será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha" (v.24b)
O ser humano que ouve as palavras de Cristo e as põe em prática é comparado ao homem prudente. Comparar, no texto bíblico em análise, é colocar duas coisas lado a lado e determinar as semelhanças entre elas. E é exatamente isso o que o Filho de Deus faz. Ele põe o ouvinte praticante ao lado do homem prudente e observa mais semelhanças que diferenças entre os dois.
O adjetivo prudente, de acordo com a língua grega, significa "que tem mente", "sábio", "sensato". O homem da passagem bíblica é adjetivado como prudente/sábio porque construiu sua casa sobre a rocha. Ele soube onde construir a sua casa. Aliás, o sábio Salomão, terceiro rei de Israel, escreveu: "Com a sabedoria edifica-se a casa, e com a inteligência ela se firma" (Pv 24.3). (Pare, por um momento, e leia, em meditação, o que escreveu o apóstolo Paulo em 1Coríntios 3.10,11.)
Construir a casa sobre a rocha significa, em termos espirituais, alicerçar a vida sobre Jesus, a Rocha. Quando as nossas vidas estão fundamentadas Nele, estamos seguros; nada, absolutamente nada, poderá nos abalar: "Só ele [Deus] é a minha rocha, e a minha salvação, e o meu alto refúgio; não serei jamais abalado" (Sl 62.6). Ah, vale lembrar que a Igreja está construída na Rocha (Mt 16.18; Ef 2.19-22).
2.3 "e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto sobre aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha" (v.25)
Chuva, rios, ventos falam das coisas que tentam abalar o crente e, por extensão, a Igreja do Senhor: acusações, tribulações, perseguições, heresias, tentações... Dar com ímpeto fala da intensidade/força com que tais fenômenos ocorrem. Em momentos de nossas vidas, as lutas virão com menos intensidade; em outros momentos, com mais intensidade. Entretanto, nada disso poderá nos separar do amor de Cristo (Rm 8.38-40), se estivermos firmes na fé, apesar dos sofrimentos (Sl 125.1; Rm 5.1,2; 2Co 1.7; 2Ts 2.15; Hb 10.23; 1Pd 5.9). E quando os "ventos de doutrina", ensinos antibíblicos, soprarem (Ef 4.11-14; Rm 16.17; Hb 13.9), que estejamos firmados na Doutrina, a fim de não nos movermos do lugar (2Jo 1.9).
3 O HOMEM INSENSATO
A segunda comparação feita pelo Senhor foi essa: "E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a chuva, transbordaram rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína" (Mt 7.26,27).
3.1 "E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica" (v.26a)
Note que, assim como o ouvinte anterior, esse também presta atenção em tudo o que Jesus fala. A grande diferença é que tal ouvinte não põe em prática o que ouve. Trata-se daquela pessoa que não dá a mínima para a Palavra de Deus. Quando a ouve, simplesmente a ignora. Tiago diz que esse tipo de ouvinte engana a si mesmo (Tg 1.22). Trata-se daquele crente que ouve a ministração da Palavra de Deus, no culto de domingo, e diz em seu coração: "Isso era o que eu precisava ouvir. Vou pôr em ação o que disse o pregador!", mas, na segunda-feira seguinte, não faz o que se dispôs no coração a fazer. No domingo, ele ouve que é pecado mentir; na segunda-feira, continua a mentir. No domingo, ele ouve que o crente deve orar, para manter comunhão com Deus; na segunda-feira, nem lembra que orar faz parte da vida cristã. No domingo, ele ouve que praticar suborno é pecado; na segunda-feira, sai com o automóvel irregular e tenta subornar os policiais que o pararam em uma blitz. No domingo, ele ouve que o cristão deve buscar a santidade todos os dias; na segunda-feira, e nos outros dias, continua a sua vida desregrada e imoral. Em suma, o ouvinte (cristão) não praticante vive no engano.
3.2 "será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia" (v.26b)
O ouvinte não praticante é comparado a um homem insensato. Insensato, por sua vez, significa, nesse contexto, "tolo", "estúpido", "insensível". Construir a casa sobre a areia revela a insensatez de tal homem. Contextualizando, construir casa na areia traz a ideia de fazer das coisas efêmeras o fundamento de nossas vidas. No mundo moderno, há pessoas que fazem do dinheiro (da riqueza) o seu chão. Outras fazem de um relacionamento amoroso o seu fundamento. Outras ainda têm na garantia do seu emprego o seu alicerce. Outras se firmam em tradições. E assim por diante. Ah, e a máxima bíblica continua valendo: "Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do Senhor!" (Jr 17.5).
3.3 "e caiu a chuva, transbordaram rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína" (v.27)
Os mesmíssimos fenômenos que ocorreram, com a mesma intensidade, à casa edificada sobre a rocha também ocorreram à casa edificada sobre a areia. Mas, para a vergonha do homem insensato, a sua casa desabou. O motivo? Simples: fora construída sobre terreno movediço, ou seja, sobre a areia. Isso significa dizer que, quando o homem busca apoiar-se em coisas temporárias, relativas a essa vida, ele jamais resistirá à chuva, rios e ventos das crises diversas (financeira, moral, espiritual etc.) e adversas que lhe sobrevirão. Por essa razão que Paulo, o apóstolo dos gentios, escreveu: "Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a essa vida [passageira], somos os mais infelizes de todos os homens" (1Co 15.19). Não há pecado algum em alguém ser rico. Aliás, se a pessoa é rica como consequência de seu esforço/trabalho honesto, tal atitude é louvável. O problema é quando essa pessoa deposita na instabilidade da riqueza a sua esperança (1Tm 6.17-19). (Sugiro que leia, em meditação, todo o capítulo 6 de 1Timóteo.) A riqueza, em si, é um terreno movediço. Ninguém consegue ficar estável sobre ela (Lc 12.20). É verdade também que existem outras areias ou terrenos movediços, nos quais não devem ser posta nossa esperança. Nossa esperança e nossa rocha, como já vimos anteriormente, devem ser Cristo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pessoa prudente/sábia tem sua casa (vida) construída na Rocha inabalável, isto é, Jesus. De modo intenso, os ventos podem soprar, os rios podem correr e a chuva pode cair; mas nada poderá abalar a estrutura dela, pelo motivo já exposto. Quanto àquele que construiu sua casa sobre a areia (terreno movediço), lamento, caso não mude de ideia, ter sua estrutura abalada, vindo sua casa a ruir tragicamente, diante dos fortes ventos, rios e chuva que lhe sobrevierem. A boa notícia é que ainda há tempo para mudar do terreno instável (e passageiro) para o Terreno estável (e eterno), a Palavra de Deus. Essa mudança cabe a você fazer, com a ajuda do Espírito Santo.
Glória a Deus
ResponderExcluirAmém!
ExcluirBom esboço de pregação
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