Pregador que se preze não 'enche linguiça'


INTRODUÇÃO

Às vezes, quando vou cultuar em certos templos evangélicos, não sinto vontade de ficar até o término da reunião. Não que eu já tenha ido embora para casa antes do encerramento de qualquer culto coletivo. Mas confesso que já me deu vontade...

Há cultos que começam com uma enxurrada de cantorias ou, como muitos chamam, período de louvor. E isso, muitas vezes, tem roubado o tempo da pregação da Palavra (isto é, a pregação-bíblico-expositiva). Também é verdade que quando o grupo de louvor começa a reunião cantando hinos cristocêntricos e levando os presentes a adorarem a Deus o clima fica gostoso. Aliás, o salmista concorda, ao afirmar: "Entrai... em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome" (Sl 100.4 - negrito meu). Entretanto, em boa parte de nossas igrejas evangélicas não acontece assim. Ou seja, cantam-se músicas desprovidas de conteúdo bíblico, sem unção e recheadas de antropocentrismo; as quais, longe de adorar ao Senhor, visam adorar o homem.

"Tristemunhos", cantorias frívolas, "profetadas" (e "revelamentos") etc. não faltam no culto exótico, digamos assim. E, para completar, ainda tem o pregador que "enche linguiça". Sim, aquele que, sem qualquer conhecimento bíblico, ao pregar, inventa histórias, conta piadas, tenta entreter o povo, mas não expõe, com clareza, a Palavra de Deus. As Escrituras Sagradas recomendam àqueles que desejam ser propagadores da Verdade: "Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" (2Tm 2.15 - negrito meu). Manejar bem, no original grego, tem o sentido de cortar em linha reta, conduzir por uma estrada reta. Em outras palavras, significa ensinar corretamente, e expor com sinceridade, a Bíblia Sagrada.

1 MÁS ATITUDES DO PREGADOR QUE SÓ SABE "ENCHER LINGUIÇA"¹

1.1 Conta inúmeras piadas em suas prédicas

Qualquer pregador da Palavra de Deus sabe que, dentro do contexto da mensagem que se quer pregar, uma ou outra ilustração (mesmo, às vezes, engraçada) é louvável; quando a intenção é tornar mais claro o que se está pregando. Mas o "enchedor de linguiça", por não saber manejar a Palavra, conta piadas exageradamente. E isso não traz qualquer edificação espiritual para a pessoa que assiste a mensagens desse tipo. Se é que posso chamar isso de mensagem. Púlpito não é palco para humorista contar piadas e historinhas, a fim de levar o auditório a gargalhar. Não. Deve-se deixar isso para os comediantes de stand-up comedy (comédia stand-up). Púlpito é altar, de onde o pregador propaga, com poder, as verdades da Bíblia Sagrada.

1.2 Não tem ética e ataca outras denominações e pessoas

Há pregadores (refiro-me aos "enchedores de linguiça") que, sem conteúdo teológico, só sabem atacar denominações, cujos usos e costumes não são os mesmos que eles defendem. Por exemplo, alguns desses pregadores afirmam: "A igreja tal está indo para o inferno, porque lá as irmãs usam calças, brincos...". Outros dizem: "A nossa igreja é que é santa! Aqui os homens não usam bermuda, nem barba; as mulheres só usam saias, não cortam seus cabelos nem usam adereços". Como você percebe, esse "enchedores de linguiça" são também santarrões. Em outras palavras, são fariseus travestidos de servos de Deus.

Outro dia assisti a um vídeo onde o preletor (um pastor, cujo nome vou omitir), que ministrava em um congresso superlotado de pessoas, ameaçou, no púlpito, um colega de ministério, xingando-o de canalha e outros palavreados. Coisa, no mínimo, indecente para quem se julga pregador da Palavra, não é mesmo? Aliás, esse pastor em nenhum momento expôs as verdades da Bíblia, naquele conclave. Ele gastou o precioso tempo que teve para pregar agredindo (moralmente) outro pastor com palavras indecorosas. E isso diante de um auditório com milhares de pessoas.

1.3 Interage demasiadamente com o público

"Vire para quem está sentado do seu lado e diga: 'não converse comigo, porque agora eu vou ouvir a Palavra de Deus!'", dizem alguns preletores, ao saudarem os presentes no templo com a paz do Senhor. Até aí nenhum problema. Quando prego, uso o clichê acima também, de vez em quando. Mas tem pregador que exagera!

Participei de um culto em uma igreja, onde o preletor da noite mandou, mais ou menos trinta vezes, cada irmão olhar para a pessoa que estava sentada ao seu lado e repetir aqueles chavões costumeiros, tipo "você já nasceu vencedor", "eu profetizo sobre a sua vida...", "eu declaro vitória sobre você", "você vai prosperar" etc. Já de palavra o tal pregador era pobre. Ou seja, a mensagem dele se resumiu a isso: mandar cada qual olhar para quem estava do lado e repetir frases prontas.

Conta-se que certo conferencista pregava em um evento evangélico de grande porte. Tal evento foi realizado em um ginásio de esportes que ficou lotado de pessoas (crentes e descrentes). E, enquanto pregava o seu sermão, o conferencista mandava os presentes repetirem seus chavões. Aí, quase no final do sermão, vem a tacada. Aquele pregador disse para a igreja: "Você, presente aqui neste conclave, olhe dentro dos olhos dessa pessoa linda que está do seu lado e diga: 'Satanás, você não roubar a minha bênção!'". Levou cada irmão a chamar o seu companheiro de Satanás, como se não fosse nada de mais. E o pior é que um monte de gente nem percebeu a besteira do tal pregador.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não foi minha pretensão fazer desse artigo um tratado sobre homilética; visei apenas escrever um texto simples, com o objetivo de orientar aquele que anseia por ser pregador do Evangelho. Pois, como já abordado, o obreiro aprovado deve manejar bem a Palavra da Verdade. E isso requer conhecimento bíblico e muita oração. Coisas que os "enchedores de linguiça" não fazem, "nem que que a vaca tussa", como dizia minha saudosa avó materna.

De pregadores, que estão mais para animadores de auditório e humoristas de stand-up comedy, nossos púlpitos estão cheios. Mas Deus conta com os verdadeiros propagadores da Boa-Nova. Aqueles que expõem a Palavra com sabedoria, sinceridade e estão "preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós" (1Pd 3.15). Afinal, pregador que se preze não "enche linguiça".

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¹Encher linguiça é uma expressão popular que equivale a enrolar, preencher um espaço vazio de modo vagaroso. No caso da pregação, refere-se aos discursos vagos de pregadores que, sem capacidade espiritual e ou teológica, ocupam o tempo do Palavra para falar bobeiras e coisas que não edificam.

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